25 de agosto de 2016

CLARA CAMARÃO

Jurandyr Navarro

Mulher do índio Poty, este conhecido, depois, por Dom Antônio Felipe Camarão. Receberam, ambos ensinamentos e a catequese de padres da Igreja Católica, que evangelizaram o Brasil, nos primórdios da sua formação histórica.
Clara Camarão combateu bravamente os invasores batavos no vizinho Estado de Pernambuco à frente de um grupo de guerrilheiras.
Assinala Domingos de Loretto, citado no excelente livro "Personalidades Históri­cas do Rio Grande do Norte", editado pela "Fundação José Augusto", que Clara Cama­rão,"armada de espada e broquel e montada a cavalo, foi vista nos conflitos mais arriscados... com admiração dos holandeses e o aplauso dos nossos". Parecia ouvir, na arrojada cavalgada, os cantos de guerra de uma nova Débora bíblica, incitando todos à vitória.
Clara foi destemida no combate armado, lembrando Artemira, capitã do formidá­vel exército de Xerxes - soberana de Halicarnasso, que tomou a chefia de cinco galeras, contra Atenas.
Verbete sobre Clara Camarão do livro "Dicionário Mulheres do Brasil" (de 1.500 até a atualidade), (Scumaher e Brazil, 2000, pág. 160), registra:

"Quando a sorte virou contra os portugueses, Clara Cama­rão esteve na frente de batalha, defendendo as posições milita­res e a população civil, que, abandonando as propriedades, e as cidades, veio refugiar-se atrás das linhas de Matias de Albuquerque, Felipe Camarão e Henrique Dias (...) Na batalha de Porto Calvo, o comandante Henrique Dias foi ferido, perden­do uma das mãos. Felipe Camarão assumiu o comando da tro­pa, apoiado por Clara. Ela foi também uma das heroínas de Tejucupapo, no litoral pernambucano onde as mulheres mostra­ram bravura na resistência ao domínio holandês.

Fragmento de texto, citado por Rejane Cardoso, às páginas 163, do monumental livro "400 Anos de Natal", editado pela Prefeitura, trecho extraído do livro "Brasileiras Célebres" (Norberto Silva, 1862), expõe:

"Dona Clara Camarão não é uma dessas descendentes dos conquistadores portugueses, que se pudesse vangloriar de um nascimento ilustre, mas uma indiana gerada nos bosques brasileiros nascida na taba, ou rústica cabana, levantada por seus pais, sobre a rede de algodão, trançada por sua mãe, como indi­cava a tez avermelhada, como dizia o perfil e os contornos de seu rosto, como denunciavam seus negros e acanhados olhos, e seus cabelos corredios e espargidios pelos hombros".

Significando dizer que a sua origem é genuinamente brasileira, de sangue indíge­na, da clã primitiva que primeiramente povoou as terras; e, depois, moldou o caldeamento das três raças.
Foi assim o nascimento e a posterior atuaçâo corajosa e heróica de Clara Cama­rão, a célebre Guerreira do Rio Grande do Norte. Assim se exibiu a vida simples e altiva
da destemida e intemerata mulher potiguar, uma imagem marcante do nosso nativismo,
a primeira Mulher representante desse nativismo, entre nós, que é a "forma precursora
de nacionalismo, sentimento de aversão ao estrangeiro invasor, sentimento de estima e
amor ao meio nativo".
A fibra hercúlea de Clara Camarão se compara à de Maria Quitéria - a primeira Mulher (disfarçada de uniforme) a participar em combate numa unidade militar no Brasil
que, século e meio adiante, tornou-se heroína no Recôncavo Baiano, na luta contra os
portugueses, pela Independência da pátria brasileira; tendo sido condecorada, no ano
de 1923, pelo então Imperador Dom Pedro
I com a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. E, posteriormente, por Decreto do atual Governo Henrique
Cardoso, reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército
Brasileiro.
Ambas morreram no anonimato.
Igualmente lembra, a coragem de Clara Camarão, à revolucionária catarinense Anita Garibaldi que, no século XIX, participou ativamente da Revolta dos Farrapos e da campanha da unificação italiana. Anita, pela sua bravura na Batalha Gianícolo, credenciou-se, na História, como mulher vocacionada para a carreira das armas.
A bravura de Clara serviu de exemplo às duas brasileiras - à catarinense e à baiana, mencionadas - por elegerem, como desígnio de vida, o signo de Marte.
Recebeu, Clara Camarão, por sua conduta elogiável, do poder político vigente à época, distinções de regalias com título de Dona e do Hábito de Cristo.
A sua coragem e audácia fizeram com que a nossa formação histórica tivesse uma das suas páginas heróicas, escrita, também, com o generoso sangue indígena.
O seu contributo valioso de mulher desassombrada se impõe à admiração dos seus compatriotas do século vinte e um, como uma das expressões individuais mais marcantes da história rio-grandense-do-norte.



MÁXIMO MEDEIROS
Natural do município rio-grandense-do-norte de "Augusto Severo", da chamada tromba do elefante, fez os seus estudos iniciais em ambiente social modesto; continuan­do, depois, na progressiva cidade de Mossoró, deste Estado.
Desde cedo ostentou capacidade intelectual, aprendendo com relativa facilidade as disciplinas dos cursos primário e ginasial. Esse aprendizado capacitou-o a sua habi­litação ao vestibular em Medicina, na velha Faculdade do Derby, no Recife.
Esta foi a prova de fogo, como se chama, de Máximo Medeiros Filho, o potiguar de origem modesta que saiu do seu Estado para enfrentar os formidáveis desafios da Ciên­cia!
E saiu bem neste primeiro teste, estágio limiar para atingir outros, no Brasil e foradele.
O vestibular enfrentado por Máximo Medeiros foi o mais difícil até então realizado em Medicina, na Mauricéia. Apenas dez por cento dos candidatos foi aprovado. E, mesmo assim, enfrentando uma Banca com Bezerra Coutinho, examinando Biologia, ele, o humilde potiguar, foi aprovado em oitavo lugar.
Daí em diante a vida de Máximo foi uma verdadeira odisseia, transpondo obstácu­los os mais difíceis, numa jornada longa, perlustrando uma estrada juncada de espi­nhos.
Sintetizamo-la, através de algumas passagens do livro intitulado: "Lembrando Máximo Medeiros Filho",do autor Carlos Ernani Rosado Soares, o seu "amigo há qua­renta anos".
Com a palavra, o erudito autor:
"O campo dos radioisótopos lhe daria o renome internacio­nal"^... ) 'Tinha pendor pela Matemática e a Física". (...) A lição que Máximo Medeiros nos deu em vida continua após a sua mor­te. Lição de capacidade profissional, de cultura geral; porém, mais que tudo, lição de humanidade: honestidade, caráter, bondade, simplicidade, calor humano, tudo era transmitido por sua encan­tadora personalidade que se impunha sem se fazer notar".
(...) Máximo veio para Natal, prosseguir seus estudos, e o fez de modo caracte­risticamente brilhante. Eu me lembrava de tê-lo visto em uma fotografia, dessa época, ao lado de José Eufrânio, Moacyr de Góes, Ubiratan Galvão e outros. E foi a Ubiratan que recorri, em função da amizade e parentesco afim, obtendo dele o seguinte comen­tário:
'Máximo é um génio'.
Em 1962, conseguiu uma bolsa em Radiobiologia na Universidade da Califórnia, através da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Ficaria no Donner Laboratory of Biophisics, de setembro deste ano a junho do seguinte. Foram propostos sete candida­tos e apenas três aceitos, tendo Máximo ficado em primeiro lugar ( ... ) Insistia em receber velhos livros do Cónego Luiz Monte, de quem era grande admirador, incluindo
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um que ele sabia ter existência, de Biologia, e que teria sido publicado para uso nos Seminários.( ... ) Enviava-me o Jornal Brasileiro de Medicina Nuclear onde ele tinha trabalho publicado, bem como Separata da Ata Hematológica, idem,idem. ( ... ) Em 1967 representou o Brasil em Viena, num Simpósio Internacional sobre Dinâmica de Proteínas Marcadas, e que em carta ressaltou: - 'Foi uma reunião de alto nível de "set" internacional que trabalha atualmente em D. de P. M., se você me permite falar assim. Basta dizer que estavam presentes McFarlane (inglês, considerado presentemente a maior autoridade mundial em gamaglobulina); Waterlow (um inglês extraordinário, de cachimbo na boca, daquele jeito que você bem conhece), Jeejeebhoy, indiano, autorida­de internacional em assuntos relacionados com perda proteica por via gastrointestinal..."
São tópicos, apenas, desse grande livro de Ernani Rosado que retrata o cientista Máximo Medeiros, seu amigo e nosso conterrâneo, para orgulho do Rio Grande do Norte.
Ernani Rosado, para quem não sabe, é um dos valores mais destacados da Medi­cina Brasileira, sendo Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; autor do Tra­balho, dentre outros, "Pós-operatório sem Antibioticoterapia Profilática".
O Doutor Ernani Rosado foi aprovado em primeiro lugar no vestibular de Medicina, sendo o melhor aluno da sua Turma e escolhido o seu Orador, na sua Diplomaçao como Médico, em Recife.
Ele e Vingt-Un Rosado são os dois biógrafos do cientista Máximo Medeiros Filho.
Como frisou Ernani Rosado e adiante se verá nas paginas de Vingt-Un Rosado, o que imortalizou o nome de Máximo Medeiros, na Comunidade Científica Internacional, foi o de ter tomado parte integrante da Reunião, em Viena, da Agência de Energia Atómica, em outubro de 1967, aos trinta e seis anos de idade. Foi ele o único represen­tante do Brasil e um dos dois da América Latina.
A sua escolha foi feita, pessoalmente, pelo Professor Ernest Belcher, então Dire-tor daquela Agência científica internacional.
Conheci Máximo Medeiros no Recife. Foi meu contemporâneo de Universidade. Ele, fazendo Medicina, e eu, Direito. Terminamos o Curso no mesmo ano: 1956. O seu nome despontou, para nós, do Rio Grande do Norte, desde o vestibular: havia a curiosi­dade de se saber os aprovados de Natal. E Máximo estava na lista dos aprovados da famosa Faculdade do Derby, no exame vestibular mais apertado da sua história, até então.
Passou-se o tempo. No início do ano de 1980, recebo dele, uma carta atenciosa, do Rio de Janeiro, adiante transcrita, sobre um assunto científico estudado pelo Padre Luiz Monte, inserido na Antologia por mim organizada, cujo teor se vê em sequência, uma espécie de depoimento expressado por Máximo Medeiros em relação ao saber científico do mencionado sacerdote, pertinente à Fisiologia.

Mesmo tendo vivido apenas quarenta e nove anos de idade, Máximo Medeiros Filho armazenou acentuado cabedal de conhecimentos em matéria científica, galgando, pelo estudo, tenacidade e inteligência um lugar de destaque dentre os vultos Notáveis do Rio Grande do Norte.

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