28 de março de 2017

O BARBA TIMÃO


Newton Lins Bahia

   A quem viajar no mês de março para Goiás, pega safra em Quirinópolis, Divinópolis e Santa Helena. Lá meio veio, o dinheiro rola que nem pulga em cachorro. Pois foi em Santa Helena que estive com o veínho do pau. Vinha lá das bandas do Juazeiro do meu Padim, Pade Ciço. Estava na praça da feira, arrodeado de matuto curioso. Me aprumei e tomei chagada.
- Eita, meu veinho do pau! No chão, bem pertinho assim, estava a arrumação: um pilão grande de pilar ervas, o ajudante teimoso e uma ruma de pau. O veinho estava virado na peste:
- Veja ai à sucupira branca, dizia ele. É muito boa para a coluna. Triste de um cristão que sofre de coceira, pano branco, pano preto, impinge, que não tenha em mãos a batata-de- pulga com a cabeça-de-nego e o velame branco. Essa mistura é um santo remédio! Inda a pouco me chegou uma muié já dando passamento para morrer. Esse / veinho aqui, preparou a camomila e a muié tomou. Resultado: parou / de gritar e ficou boa. Diga quem foi que curou? Foi Jesus e a garrafada do veinho do Juazeiro! Veja bem: se o matuto perguntar se tem água na garrafada, eu lhe respondo: não que apodrece. Se o matuto / insistir: É cachaça? E o veio do pau, muito brincalhão da cada / ingúio com nojo... E diz assim:
- A cachaça, a aguardente, tira inté à vergonha de quem tem, a muié, a saúde, o cavalo... Vamos colocar a Jurubeba, que você pode inté esta caçando o canto de morrer; o individuo pode estar amarelo que nem flor de algodão, tomou a Jurubeba – é bater e valer. Não tem dieta de nada. Coma peixe, camarão, carne de porco. Só não como pimenta nem o suco do tal lima. Eita, meu veinho de pau!
Aqui ó, e mostra a catuaba pra deixar veio virado no jumento da Paraíba. Se você quer morrer? Morra! Aqui ó, u, santo remédio / para gastrite. E a tal da ameixa. Tá com queimor, uma úlcera, uma / azia? Olhe meu véio, que tem gente que quando fala, a boca fede / mais do que uma carniça, e não é na boca não.
- Donde é meu véio? Pergunta o matuto assustado.
- É do estomago! Quem curou? Foi Jesus, foi Nossa Senhora das Dores, a padroeira do Juazeiro! Essa aqui é a tal da quixaba.
Serve para dor nos ossos, dor nas pernas, dor na coluna de quem esta sem poder andar. Meu povo, este aqui é o Jamborandi, para quem tem gastrite. Pode inté esta vomitando sangue...
- Ô meu véio, que planta é essa? Pergunta o matuto. – É a tal da urtiga branca. Não tem pelo, não queima ninguém. Pode vir aqui muié com problema de útero, ovário ou seja lá o que for, que a urtiga branca resolve.
- Ô meu véio, ainda vem tem mais?
- Agora é que tem! Este aqui é o tal do barba-timão, bom para próstata crescida, inflamada, inchada... o freguês pode inté urinar / sangue meu véio. Agora, as ervas que são pisadas do pilão: a camomila para pressão alta e coração inchado. Vamos colocando sucupira branca, a erva doce, alecrim-pata-de-vaca para diabetes; anil o lado... Esse aqui é a Catuaba que levanta a moral. A folha de boldo, a goma de batata-de-pulga com a cabeça-de-nego para limpar a pele e o sangue; o pano branco e o pano de preto... O individuo pode inté esta largando o couro meu véio. Ai você pergunta:
- Diga quem me curou? Foi Jesus e a garrafada do veinho do Juazeiro!
- Eita, meu veinho do pau! ...

“ Este trabalho é um fragmento do meu livro inédito “VÁRZEA ALEGRE”.

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