29 de março de 2017

Uma Fortaleza, um Patrimônio Histórico: muitas reflexões!!


Luciano Capistrano
Historiador: Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte
Professor: Escola Estadual Myriam Coeli

Um olhar sobre a cidade

Uns ventos do além-mar
Sopram vozes do poeta lusitano
“Navegar é preciso, viver não é preciso”.
E o rio de minha aldeia
Corre ao mar
Levando vidas e sonhos
Das comunidades ribeirinhas
Barquinhos a navegar
Passo da Pátria, Cais da Tavares de Lyra
Portos de uma cidade
A olhar o Alto da Torre
Testemunha ocular de uma expansão urbana
E seus conflitos
Em uma urbe viva
Onde não existe neutralidade
Entre o mar, dunas e o rio
Planos tradutores da cidade que temos
E da cidade que queremos
Desejos.
(Luciano Capistrano)

            A Fortaleza dos Reis Magos, construção símbolo do domínio Ibérico, erguida em 1598, exerceu papel fundamental na conquista do norte do território, que veio a ser o Brasil, como nos lembra o pesquisador Hélio Galvão: “A conquista e integração do norte do Brasil só se tornou possível a partir do instante em que a Fortaleza dos Reis Magos, ‘posta em defesa’, pode servir de apoio às jornadas organizadas naquela direção. É a expansão para além de São Roque, na expressão de Capistrano de Abreu”(GALVÃO, Hélio. História da Fortaleza da Barra do Rio Grande. Rio de Janeiro: MEC, 1979, p. 57).
            A relação da identidade do povo brasileiro com a edificação de pedras a embelezar a paisagem da entrada da barra do rio Potengi, é ponto pacifico entre os historiadores, não tem como falar da nossa história da formação do povo brasileiro, sem se fazer uma referência ao domínio lusitano e, evidente, o papel da Fortaleza dos Reis Magos.
            Faço esse preambulo, insistindo na contribuição da edificação em tela, para a formação da identidade do povo Potiguar/Brasileiro, como indicação dos caminhos a serem percorridos nessa escrita. Uma reflexão nascida das minhas visitas a este que é sem dúvidas o maior centro de visitação turística da cidade de Natal, lugar de muitas memórias/histórias do hoje natalense.
            Nestas andanças, dialogando sobre os descaminhos da urbe, tenho percebido ao longo do tempo um descaso, infelizmente, crescente, com a preservação da Fortaleza, inserida na Zona de Proteção Ambiental 7, sua importância se dar como Patrimônio Histórico e Ambiental, sem falar do ponto de vista da Indústria do Turismo, nota-se deste modo como este sitio histórico/cultural, necessita ter um olhar diferenciado por parte do poder público, e, aqui, me permitam, me refiro as três instancias da federação: Federal, Estadual e Municipal.
            Em abril de 2013, amigo velho, a administração da Fortaleza dos Reis Magos passou do governo estadual, Fundação José Augusto, para o governo federal, Superintendência do IPHAN. Nesta época a cidade de Natal tinha sido contemplada pelo PAC das Cidades Históricas, o que incluía recursos para restauração de diversos patrimônios culturais da cidade, inclusive a Fortaleza.
            Ventos alvissareiros sopravam sobre as terras de Câmara Cascudo. Políticas de preservação patrimonial, contariam com grande aporte financeiro com a chancela do governo federal através do Ministério da Cultura, a frente a senadora Marta Suplicy. Tempos bons, é o que todos esperávamos, afinal, Natal sediaria a Copa do Mundo de 2014, então, nada mais oportuno de termos revitalizados nossos “lugares de memórias”. Bem, a Copa passou, o tempo passou e chegamos a 2017 com as obras de restauração da Fortaleza dos Reis Magos, paralisadas, e, a tão propagada verba do PAC das Cidades Históricas contingenciadas.
            Reconhecido como Patrimônio Histórico, protegido pela Lei do Tombamento, desde 1949, hoje o maior Patrimônio Cultural do Rio Grande do Norte, passa por serias dificuldades em sua preservação e como local de visitação turística e de educação patrimonial deixa muito a desejar aqueles que fazem uma visita ou uma aula de campo naquele lugar repleto de história, cultura e natureza.

Memórias:
preservadas/esquecidas

Abandono de memórias esquecidas
Desejo de restaurar histórias da urbe inexistente
Cidade respirando identidades mortas.
Paisagens silenciosas dizem muito de
Trajetórias de “gentes”, aflições, conflitos de “eus”,
Marcas construídas por gerações inteiras,
Erguidas, demolidas, ao longo do tempo.
Preservar significados cheios de testemunhos
Ver o cotidiano ser construído nas esquinas
Entre alegrias, tristezas, construções oportunas/oportunistas
Erguem muros de exclusões
Em vias contrarias nascem utopias
Erguem pontes de inclusão,
Caminha a urbe deixando pegadas
Preservadas ou esquecidas!!
(Luciano Capistrano)

            Faz necessário, diante do quadro a cheirar abandono, que os órgãos responsáveis pelas políticas preservacionistas se articulem com o objetivo de desenvolverem esforços conjuntos, na perspectiva de realizar intervenções em três linhas especificas: Patrimônio, Educação e Turismo. Deste modo, garantindo aos visitantes e aos habitantes de Natal a utilização da Fortaleza dos Reis Magos, para fins de preservação patrimonial, de educação e do turismo.
            As ações passadas devem servir de parâmetros educativos, não podemos improvisar na formatação e execução de projetos de revitalização de sitio histórico/ambiental, tão importante como é a Fortaleza dos Reis Magos, neste sentido, nos valemos do conselho do historiador Carlos Lemos:
A nosso ver, o ‘como” preservar o Patrimônio Ambiental Urbano depende de providencias em dois campos. O primeiro deles é ligado ao planejamento, ao projeto de recuperação, ou revitalização de núcleos de interesse documental ou artístico, somente possível após exaustivos levantamentos de natureza variada. O segundo campo é aquele decorrente da implantação do projeto e tem fundamentalmente um interesse social já que, ao se intervir num imóvel, se está intervindo na vida de seu ocupante. (LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Editora brasiliense, 2008, p.95)

            O improviso em políticas preservacionistas podem trazerem danos irreparáveis ao patrimônio histórico, assim, desejo que os entes federativos, UNIÃO, ESTADO e MUNICIPIO, juntem forças para fazer da ZPA – 07 , um lugar de encontro do rio Potengi com o oceano Atlântico, com suas belezas naturais e culturais, a despontar o moderno a Ponte Newton Navarro e o antigo, a Fortaleza dos Reis Magos, como lugar de nossa história, a ser visitado, a ser apreendido, através dos Guias de Turismos  e dos Professores, ao dialogarem em visitas de lazer ou nas aulas de campo, sobre os construtores do povo Potiguar. Fica o desafio posto, este é o objetivo primeiro deste artigo.Uma Fortaleza, um Patrimônio Histórico: muitas reflexões!!

            

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