19 de março de 2018

A CHEIA ATROPELA A SECA






                                                                               Santa Cruz em 1981


       Mal comemorou os seus dois anos de Governo com o problema de duas secas, Lavoisier Maia entrou no seu terceiro período com inesperados problemas criados por uma repentina enchente. Enquanto toda a máquina do Governo voltava-se para combater a falta d’água, surgiu o excesso de água o que, segundo técnicos da Secretaria da Agricultura e da EMATER-RN, vai dar quase no mesmo porque “tanto faz um açude seco, como um açude destruído pelas águas, como o de Campo Redondo e mais de 100 outros em todo o Estado, entre públicos e  particulares’’. No entanto, não chega a ser exatamente a mesma coisa, feitos todos os balanços. “De qualquer modo’’ – como diz  Gilzenor Sátiro, da EMATER “a terra está molhada e é melhor do que seca’’.
         Mas a enchente que assolou o Rio Grande do Norte no fim de março e princípio de abril, provocando prejuízos de uns 500 milhões de cruzeiros e a destruição parcial da cidade de Santa Cruz, não é sinal seguro de inverno. Mesmo o mundaréu de água não afasta, de todo, o fantasma das previsões dos técnicos do Centro de Tecnologia da Aeronáutica – CTA.
         - Inverno mesmo – segundo os técnicos – só se continuar chovendo até o fim de abril.
         OS ESTRAGOS – Mas, sendo inverno ou tão somente uma violentíssima frente fria que pairou sobre o Nordeste durante alguns dias, o aguaceiro deixou marcas indeléveis no Estado. Não só nas mais de mil casas destruídas em Santa Cruz, nas quase 200 de Campo Redondo, no devastamento de pontes e estradas e açudes. Há os Cr$ 165 milhões que o parque industrial deixou de faturar pelos quatro dias de completa paralisação de suas máquinas em função da interrupção no fornecimento da energia elétrica, há o não avaliado prejuízo das pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais que estiveram parados e vão ter grandes dificuldades neste mês de abril e, sobretudo, ficou a recordação da vulnerabilidade da economia do Rio Grande do Norte a fatores tão perigosos. Um deles é a dependência do Estado a uma única linha de transmissão de energia de Paulo Afonso, na rota que vem por Campina Grande e o Seridó -  justamente a que foi atingida pelas águas do açude arrombado de Campo Redondo. Só com o acidente que arrastou 14 torres de aço o Governo despertou para a necessidade de reforçar a sua luta para o Ministério do Interior continuar as obras da linha alternativa via Ceará Russas, através do Oeste.
         O AUXÍLIIO – A enchente teve uma vantagem em relação à seca: o auxílio mais rápido do Governo Federal, através da visita do Ministro Mário Andreazza a Santa Cruz e Campo Redondo. Pelo menos a promessa foi rápida: financiamento para reconstrução das casas, aos comerciantes prejudicados, facilidades creditícias através do Banco do Nordeste. Os empresários através da FIERN, entraram também com suas reivindicações, tanto em termos dos prejuízos, como também para o setor da construção civil, pois há 300 casas prontas no Estado dependendo da liberação de financiamentos.
         No natalense ficou o trauma dos cinco dias passados na mais completa escuridão e num dramático – e paradoxal – jejum de água potável.

(Transcrito da Revista RN ECONÔMICO – ano XI – nº 121 – Março/81)

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